E porque haveria de chamar-se Confraria de Santo António, se era S. Teotónio o padroeiro da cidade e diocese?
Não o sabemos ao certo.
Maximiano Aragão (3) dá razões que eu comungo também:
1.) – Culto e veneração a Santo António vindo da antiguidade, com capela e imagem não claustro da Sé Catedral ;
2.) – Os habituais festejos de Santo António, com “iluminações de largos e praças, corridas de velocípedes, fogo preso, touradas” , “comissão especial para cada um dos seguintes Bairros: 1.- Ribeira, Avenida e Arco; 2- Rua Direita à estrada de Coimbra; 3.- Santa Cristina, R. D .Maria Pia ao Rocio; 4.- Rua do Príncipe Real, ao Rocio e Praça da Herva; 5.- Rua grão Vasco, Arvoredo, Praça de Camões e Adro; 6.- Rua de D. Duarte; 7.- Rua Nova, Boa Morte e Senhora da Piedade; 8.- Rua Nova das Ameias e Largo de trás da Sé.” (4)
A estas acrescento eu:
3.) – A proximidade do 7º Centenário do nascimento de Santo António. Pode ler-se no jornal Liberdade de 3 de Maio de 1894: “ SANTO ANTÓNIO- sempre é certo ter lugar no proximo anno a solenisação do centenário de Santo António. Presidirá á comissão a rainha D. Amélia”(5);
4.) – Ser o nome do Santo padroeiro de Lisboa e Pádua o 2º mais escolhido por pais e padrinhos para darem aos seus filhos do sexo masculino.
Num estudo demográfico sobre a cidade de Viseu entre os anos 1823- 1832, por mim, Artur Valente da Cruz, elaborado em Junho de 1980, para entregar na disciplina de História de Portugal da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ao analisar a onomástica usada em Viseu nos neo-baptizados (entre 1823-1827), dos 54 nomes em 595 indivíduos, encontrei, como preferidos, os seguintes nomes:
José …134 …22,5%; António…121…20,3%; Manuel…86…14,4%; João…69…11,6% ; Francisco… 47… 7,9%; Joaquim … 38 … 6,4 %; Luís…12 … 2,0 %; Bernardo …11… 1,8 %
( O nome Teotónio só aparece num baptizado; o nome António o segundo mais usado na cidade).
50% dos fundadores da Confraria tinham o nome de António
Vamos hoje analisar a Fundação da Confraria:
Viseu foi sempre cidade que teve em Santo António um dos santos da sua predileção. A par da Feira de S. Mateus, bem cedo os comerciantes da cidade aproveitaram a época do dia do Santo, para fazerem os seus negócios. O altar de santo António, situado nos Claustros da Catedral, era local de romaria anual nos dias 12 e 13 de Junho. As ruas da cidade eram engalanadas. Os mordomos, eleitos anualmente, procuravam animar a cidade de Viseu …..
O dia 15 de Agosto de 1895 seria o da comemoração do 7º CENTENÁRIO DA NASCIMENTO de Santo António. Viseu, em 1894, viva já a euforia dessa comemoração. Terá sido isso que, a par de uma preocupação pelos jovens pobres, dos sem-abrigo e das prostitutas que levou um grupo de cristãos a querer fundar esta Confraria?
Os primeiros passos…
1.- meados de Abril de 1894 a 26 de Maio de 1894:
a) – reunem-se em casa de Abel Pais Pereira de Loureiro e Vasconcelos, quatro cristãos:
e decidiram: ir ao Paço de Fontelo pedir ao Bispo da Diocese (D. José Dias Correia de Carvalho) conselho sobre a fundação de uma Confraria de Santo António que tivesse a sua sede na Igreja do Convento de Jesus.
b) – recebidos por D.. José, sentem que:
-“ o Bispo acolheu muito bem a ideia” e mostrou que acederia dos desejos de ficar eregida na referida Igreja;
Mas D.José, ao despedir-se, observou-lhes que: só algns dias depois, depois de reflectir, daria resposta definitiva.
c) – dias depois – António Augusto Pereira dos Santos é encarregado pelos outros três para convidar Camilo Alberto d’Andrade para que, juntando-se a eles constituíssem uma Comissão Organizadora da Confraria de Santo António de Viseu .
Camilo Alberto d’Andrade responde-lhes que só aceita se dessa Comissão fizeram também parte Maximiano Pereira da Fonseca e Aragão e António Cantos.
Após a aceitação destes combinou-se de imediato uma reunião em casa de Camilo Alberto d’Andrade, para a qual se convidou também o Dr. Alberto de Magalhães Pinto Bandeira, advogado, com o desejo de que este apoiasse na execução dos Estatutos.
d) – para a referida reunião compareceu a Comissão Organizadora , composta agora por:
e) – Seguiram-se algumas reuniões onde foi discutido e aprovado o projecto de ESTATUTOS … nessa altura foi convidado também a fazer parte da Comissão António José Antunes, que ficou a ser o seu 9 º elemento.
f) – Entretanto, através do seu secretário, Cónego Dr. Manuel Vieira de Matos (mais tarde arcebispo de Mitilene e bispo da Guarda), D. José de Carvalho manda-lhes dizer que não lhes concede a licença para que Confraria venha a ter por sede a Igreja do Convento.
g) – em 26 de Maio, resolvem e arcebispo de Braga fazer nova reunião em que é feito um ofício a D. José de Carvalho
Passaram dez dias e o senhor Bispo de Viseu não responde (nem oralmente nem por escrito) … durante este tempo a Comissão reuniu novamente e trabalhou para a conclusão dos Estatutos.
Em 5 de Junho, passam para as “caldas” de S.Pedro do Sul, Sua Majestade a Rainha D. Amélia e seus filhos D. Luís Filipe (Príncipe Real) e o Infante D. Manuel (Duque de Beja). D. José de Carvalho encontrando o Sr. Dr. Aragão repete-lhe que “não concedia a Egreja do Convento e que essa sua escusa é terminante”.
Apesar de tudo os Estatutos são aprovados pela Comissão. São feitos três exemplares e enviados, através da Administração do Concelho, ao Governador Civil do Distrito para sua aprovação… que os aprovou no dia imediato.
No dia 13 de Junho D. Amélia d’Orleães e seus filhos vieram de S. Pedro do Sul visitar a cidade de Viseu. Enquanto descansavam na Casa do Adro (onde estava instalada a Escola Agrícola e onde lhes foi oferecido almoço pela Câmara Municipal) os fundadores da Confraria, pedindo apoio a uma Comissão de Senhoras, que haveriam mais tarde de ser Irmãs da Confraria, ofereceram-lhes os diplomas de Irmãos benenéritos.
Comissão de Senhoras que acompanhou os fundadores na entrega dos Diplomas de Irmãos
Beneméritos à Rainha e seus filhos no dia 13/96/1894:
Em 1 de Julho de 1894 reuniram os escolhidos para a Direção da Confraria:
foi resolvido que:
a) o escrivão mande:
– imprimir os Estatutos;
– fazer os Diplomas para os irmãos da Confraria (1000) e que não custem mais de 20$000rs.
– fazer uma zincogravura para se estamparem “Santos Antónios”para se venderem na capela do Santo, situada nos Claustros da Sé
O mesário António Augusto d’Almeida :
– peça amostras para se escolher a fazenda e a cor das opas.